Documentos originais para a preparação de edições de Amílcar Cabral recuperados por Mário de Andrade | Von Mário de Andrade wieder aufgefundenen Originalschriften zur Vorbereitung der Publikationen Amílcar Cabrals
Livro-objeto bilingue (português / alemão)

Tradução português / alemão: Karin Coutinho
Revisão português: Bárbara Santos
Zweisprachiges Künstlerbuch (Portugiesisch / Deutsch)

Übersetzung Portugiesisch / Deutsch: Karin Coutinho
Lektorat Portugiesisch: Bárbara Santos

Apoios, conceito e descrição

Apoios garantidos para produção de trabalhos artísticos, de exposição e de livro-objecto (à data de julho 2019):
Fundação Calouste Gulbenkian, PT,
Senado para a Cultura e Europa da cidade de Berlim, DE,
Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, PT,
Instituto Camões, PT.

 

O título do livro Documentos originais para a preparação de edições de Amílcar Cabral recuperados por Mário de Andrade reproduz uma nota manuscrita presumivelmente por um arquivista numa pasta mantida nos Arquivos Históricos Nacionais em Bissau. Foi do conteúdo desta pasta que surgiu a ideia de desenvolver um livro-objeto baseado em tais escritos.

 

Depois do meu regresso a Lisboa, visitei o arquivo nacional Torre do Tombo, onde consultei os fundos da PIDE. Encontrei transcrições de transmissões de rádio de diferentes emissoras que estavam sob escuta durante a ditadura: Brazzaville RTF, Rádio Moscovo, Rádio Dakar, Voz da Liberdade, Rádio Conakry, Serviço Africano da BBC e Rádio Libertação da Guiné-Bissau. Uma tal transcrição de escuta é uma conversa com Mário de Andrade, que teve lugar a 22 de outubro de 1967 na Rádio Libertação. Andrade foi um político angolano, co-fundador do Partido Comunista de Angola (1955). No final dos anos 40 viveu em Lisboa, onde promoveu atividades culturais com Amílcar Cabral na Casa dos Estudantes do Império. Já em 1954 vivia no exílio em Paris, onde estava em contato com Léopold Senghor e Nelson Mandela. Andrade preferiu viver no exílio mais tarde em Cabo Verde, Moçambique e Guiné-Bissau. Em 1973, foi encarregado pelo Comité de Coordenação político-militar do MPLA de organizar os textos políticos de Amílcar Cabral. Entre 1978 e 1980, foi Ministro da Informação e Cultura da Guiné-Bissau.

 

Em diálogo com o historiador Victor Ramos, tomei conhecimento sobre diplomata finlandês Mikko Pyhälä, que foi membro da União Internacional de Estudantes e visitou a Guiné-Bissau em 1970. Em março de 2018, conheci Mikko Pyhälä em Helsínquia, onde por dois dias conversámos sobre as suas experiências. Mikko mostrou-me o seu arquivo fotográfico (numerosos diapositivos de 35 mm a cor, em perfeito estado de conservação), que documenta a vida quotidiana da população e dos guerrilheiros nas “zonas libertadas” da Guiné-Bissau durante a luta de libertação.

 

Da pesquisa arquivística resultaram, então, os seguintes elementos, que formam o ponto de partida para o livro do artista e nele são reproduzidos:
– escritos de Amílcar Cabral compilados por Mário de Andrade;
– conversa com Mário de Andrade na Rádio Libertação, escultada e transcrita pela PIDE;
– fotografias de Mikko Pyhälä.

 

No intuito de formalizar uma colaboração interdisciplinar que cruze a produção artística com análises investigativas, elaborei questões que apresentei a autoras e autores que, no âmbito da sua investigação, desenvolvem temas relacionados com a minha análise destes documentos. Cinco autoras/es responderam positivamente ao meu apelo e as suas contribuições dão forma a um discurso contemporâneo sobre o conflito colonial, a partir do caso específico da Guiné-Bissau. As suas contribuições oferecem, assim, uma contextualização contemporânea do pensamento de Amílcar Cabral (José Carlos dos Anjos); uma reflexão sobre os arquivos errantes como sendo um conjunto de narrativas biográficas individuais e coletivas (Sónia Vaz Borges); uma reflexão sobre a condição problemática do documento fotográfico no contexto das “zonas libertadas” (Nélio Conceição). Outras contribuições elaboram também sobre as possibilidades de diálogo e tensões do processo guineense e o discurso feminista global (Patrícia Godinho Gomes) e sobre a agência dos intermediários guineenses no movimento de libertação (Pedro Cerdeira).

Förderungen, Konzept und Beschreibung

Gewährte Förderungen von künstlerischen Arbeiten, Ausstellung und Künstlerbuch (Stand: Juli 2019):
Calouste Gulbenkian Stiftung, PT,
Senatsverwaltung für Kultur und Europa der Stadt Berlin, DE,
Generaldirektion für Bücher, Archive und Bibliotheken, PT,
Camões Institut, PT.

 

Der Buchtitel Von Mário de Andrade wieder aufgefundenen Originalschriften zur Vorbereitung der Publikationen Amílcar Cabrals gibt eine handschriftliche Notiz wieder, die vermutlich von einem Archivar auf eine Mappe geschrieben wurde, die sich im Bestand des Nationalen Geschichtsarchivs in Bissau befindet.

 

In Lissabon besuchte ich das portugiesische Nationalarchiv Torre do Tombo, wo ich den Bestand der PIDE (dt.: Internationale Polizei und Staatsschutz) durchsah. Dort fand ich Transkriptionen von Radiosendungen verschiedener Rundfunkanstalten, die während der Diktatur unter Beobachtung standen. Eine dieser Transkriptionen gibt ein Gespräch mit Mário de Andrade wieder, das 1967 für das Rádio Libertação (der guinea-bissauischen Rundfunkanstalt vor der Unabhängigkeit) stattfand. Andrade war ein angolanischer Politiker und Mitbegründer der Kommunistischen Partei Angolas. Ende der 40er Jahre lebte er in Lissabon, wo er zusammen mit Amílcar Cabral kulturelle Aktivitäten am Haus der Studenten des Imperiums (pt.: Casa de Estudantes do Império) förderte. Bereits ab 1954 lebte er im Exil in Paris, wo er zu Léopold Senghor und Nelson Mandela Kontakt pflegte. Später lebte Andrade im Exil in Kap Verde, Mosambik und Guinea-Bissau. 1973 wurde er vom politisch-militärischen Koordinierungsausschuss der MPLA (dt.: Volksbewegung zur Befreiung Angolas) beauftragt, die politischen Texte von Amílcar Cabral zusammenzustellen und zu veröffentlichen. Von 1978 bis 1980 war er Minister für Information und Kultur in Guinea-Bissau.

 

Im Gespräch mit dem Historiker Victor Ramos erfuhr ich von dem finnischen Diplomaten Mikko Pyhälä, der 1970 als Mitglied der Internationalen Studentenschaft Guinea-Bissau besuchte. Im März 2018 traf ich Pyhälä in Helsinki, wo wir zwei Tage lang über seine damals gemachten Erfahrungen sprachen. Er zeigte mir sein Archiv mit den Fotos, die das alltägliche Leben der guinea-bissauischen Bevölkerung und der Guerillas in den „befreiten Gebieten” während des Befreiungskampfes dokumentieren.

 

Nach Abschluss der Archivrecherche wurden für das Künstlerbuch drei Materialquellen ausgesucht, die darin reproduziert werden:
– von Mário de Andrade gesammelten Schriften Amílcar Cabrals (Nationales Geschichtsarchiv, Bissau);
– Gespräch mit Mário de Andrade, transkribiert von der PIDE (Nationalarchiv Torre do Tombo, Lissabon);
– Fotografien von Mikko Pyhälä (Privatarchiv, Helsinki).

 

Später erarbeitete ich Fragestellungen um den Themenkomplex der Befreiungsbewegung herum, die von den eingeladenen Autor*innen bearbeitet wurden. In ihren Texten geht es um den aktuellen Diskurs über den kolonialen Konflikt am Fall Guinea-Bissaus und somit um eine Kontextualisierung des Denkens Amílcar Cabrals, das in einen Dialog mit der lateinamerikanischen dekolonialen Wende tritt (José Carlos dos Anjos), um das Nachdenken über die wandernden Archive als eine Reihe von individuellen und kollektiven biografischen Erzählungen von Freiheitskämpfer*innen (Sónia Vaz Borges), um Betrachtungen zur Problematik des fotografischen Dokuments im Kontext der „befreiten Gebiete“ (Nélio Conceição), die Möglichkeiten eines Austausches und die Spannungen zwischen dem guinea-bissauischen Prozess und dem globalen feministischen Diskurs (Patrícia Godinho Gomes) und um die Rolle der guinea-bissauischen Dorfchefs in der Befreiungsbewegung (Pedro Cerdeira).

“A África austral é o terreno dum vasto choque entre o movimento de libertação africana e as diversas sociedades financeiras que entre si partilham o controle do sub-solo mais rico da terra. Não é portanto surpreendente que o advento da independência africana suscite nessa [região], problemas ligados à manutenção dos privilégios económicos. Uma identidade de opções, num feixe de alianças, anima o conjunto das forças que se batem na frente de luta pela proeminência da “dominação branca” sobre o ultimo terço do continente.“
Dos escritos de Amílcar Cabral, sem data.
„Der Süden Afrikas ist die Region, wo die afrikanische Befreiungsbewegung und die verschiedenen Finanzunternehmen, die unter sich die Kontrolle über die größten Bodenschätze der Welt teilen, aufeinanderprallen. Es ist von daher nicht verwunderlich, dass das Aufkommen der afrikanischen Unabhängigkeit in dieser Region Probleme für die Aufrechterhaltung der wirtschaftlichen Privilegien bringt. Gleiche Zielsetzungen von zahlreichen Bündnissen beseelen die Kräfte, die an der Front gemeinsam den Status der ‚weißen Vorherrschaft‘ über das letzte Drittel des Kontinents verteidigen.“
Aus den Schriften Amílcar Cabrals, undatiert. Übersetzung von Karin Coutinho.
Mikko Pyhälä, fotografias nas “zonas libertadas” da Guiné-Bissau, 1970/71
Fotografien in den „befreiten Gebieten” Guinea-Bissaus, 1970/71

“Arquivos Errantes são pessoas, histórias, memórias, experiências e reflexões sobre um passado, constituindo verdadeiros arquivos graças à quantidade de informação armazenada nas suas memórias, no seu corpo e nos objetos que muitas vezes guardam em suas casas. Simultaneamente, são errantes porque as suas memórias não são estáticas e fixas no tempo, assim como a sua vida não o é. Essas memórias e reflexões viajaram no tempo e no espaço, tal como o seu corpo, e é neste tempo e espaço que constantemente adquirem novas formas e entoações.”

“Para uma jovem investigadora para quem o contexto da luta de libertação ainda é um conjunto de imaginários criados a partir de histórias e fantasias, o contacto com os Arquivos Errantes é crucial para perceber os quotidianos da luta de libertação e, assim, num processo de interação, poder construir respostas e trazer à História uma diversidade de vidas quotidianas, repletas de elementos e reflexões e colocadas até à data à margem da História e do processo da luta de libertação.”
Os Arquivos Errantes. Recuperando as histórias da História da luta de libertação nacional do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Sónia Vaz Borges.
Wandernde Archive sind Menschen, Geschichten, Gedächtnisse, Erfahrungen und Gedanken über eine Vergangenheit, die dank der Fülle an Informationen in ihrem Gedächtnis, ihrem Körper und den Dingen, die sie oftmals bei sich zu Hause aufbewahren, wahre Archive darstellen. Überdies wandern sie, denn sie sind genauso wenig wie ihr Leben statisch und fest in der Zeit verankert. Wie ihr Körper sind auch ihre Erinnerungen und Gedanken durch Zeit und Raum gereist, und genau in Zeit und Raum nehmen sie immer wieder neue Gestalten und neue Tonarten an.“

„Für eine junge Forscherin, für die der Kontext des Befreiungskampfes noch aus einer Reihe von Vorstellungen besteht, die aus Erzählungen und Phantasiebildern entstanden sind, ist der Kontakt mit Wandernden Archiven von maßgeblicher Bedeutung, um die Alltäglichkeiten im Befreiungskampf zu verstehen und so in einem Interaktionsprozess Antworten konstruieren und in die Geschichte die unterschiedlichsten Alltagsleben mit all ihren Besonderheiten und Gedanken einbringen zu können, die bislang in der Geschichte und beim Befreiungskampf ein Randdasein geführt haben.“
Wandernde Archive. Das Wiederaufleben von Erzählungen zur Geschichte des nationalen Befreiungskampfes der Afrikanischen Partei für die Unabhängigkeit von Guinea und Kap, Sónia Vaz Borges. Übersetzung von Karin Coutinho.
Amílcar Cabral, escritos anotados por Mário de Andrade / Schriften notiert von Mário de Andrade
Mário de Andrade, abgehörtes Gespräch am Rádio Libertação / entrevista escutada na Rádio Libertação

“Mas, neste contexto, cabe perguntar por que é que os artistas que trabalham com o arquivo recorrem tantas vezes à deslocalização, ao rompimento dos laços institucionais e de poder mais imediatos, visando assim abrir as imagens a diferentes experiências e leituras? Essa parece ser uma forma de quebrar exactamente esse lastro que afunda as imagens num contexto e num tempo histórico estanques. No que toca às imagens fotográficas, há como que a criação de uma situação paradoxal. Por um lado, as fotografias são levadas a jogo por causa da sua força de evidência, da sua capacidade de nos colocar lá, de novo. Por outro lado, elas são trabalhadas, destruídas no núcleo das suas funções e reconstruídas num espaço de experimentação que é também um espaço de sensações, de pensamentos, de novas ligações, de promessa.“
A luz por entre a ramagem – fotografia, testemunho e espaço de manobra na zona libertada da Guiné-Bissau, Nélio Conceição.
„In diesem Zusammenhang stellt sich aber die Frage, warum Künstler, die mit Archiven arbeiten, so häufig ihren Standort wechseln und unmittelbare Verbindungen zur Macht oder zu einer Institution abbrechen, um die Bilder so neuen Erfahrungen und Lesarten zu öffnen? Scheinbar ist dies ein Weg, um sie von eben dem Ballast zu befreien, der sie in einem hermetisch abgeschlossenen Kontext und Geschichtszeitraum versenkt hält. Im Fall der fotografischen Bilder wird dadurch fast eine paradoxe Situation geschaffen. Einerseits werden Fotografien genommen, weil sie besonders aussagekräftig sind und uns nochmal genau dorthin stellen. Andererseits werden sie aber bearbeitet, im Kern ihrer Funktionen zerstört und in einem Experimentierraum rekonstruiert, der gleichzeitig ein Raum der Gefühle, Gedanken, neuer Assoziationen und Verheißung ist.“
Das Licht zwischen den Zweigen – Fotografie, Zeugenschaft und Handlungsspielraum in den befreiten Gebieten Guinea-Bissaus, Nélio Conceição. Übersetzung von Karin Coutinho.
Rui Vilela, texto revisto em breve
Übersetzung folgt
Introdução: material de arquivo e histórias alternativas
Einführung: Archivgut und alternative Geschichten
José Carlos dos Anjos, texto revisto aqui
José Carlos dos Anjos, Übersetzung hier
Proximidades e distâncias entre a virada decolonial latino-americana e o pensamento de Amílcar Cabral
Nähe und Distanz der dekolonialen Wende in Lateinamerika zu Amílcar Cabrals Denken

Resumo e biografia

Nas últimas três décadas um conjunto de intelectuais latino-americano aprofundaram aspectos das críticas pós-coloniais ao pensamento ocidental e conformaram uma corrente fortemente assentada sobre uma consciência geopolítica aguçada do lugar e das estratégias de escritura em ciências sociais. Consciência geopolítica estabelecida em relação ao imperialismo, é também um traço do pensamento de Amílcar Cabral. Contudo, há diferenças notáveis na edificação dos respectivos lugares de enunciação. Enquanto Amílcar Cabral se acercava de provérbios africanos para construir a possibilidade de “pensar pelas nossas próprias cabeças”, os intelectuais latino-americanos insistem em derivar seus lugares de enunciação das brechas deixadas em aberto pelo eurocentrismo predominante nas ciências sociais ocidentais. O artigo explora as consequências em radicalidade política dessas duas posturas críticas em relação à supremacia epistêmica ocidental.

 

José Carlos dos Anjos é doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1998). A sua tese de doutoramento tem o título de Intelectuais, Literatura e Poder em Cabo Verde: lutas pela definição da identidade nacional. Palavras-chave: identidades racial e nacional; sociologia da transação de modelos culturais; trajetória de elites intelectuais; mediação política. Ele é pós-doutorado pela École Normale Supérieure de Paris (2007). Atualmente é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul atuando na Pós-Graduação em Sociologia e Desenvolvimento Rural. Coordenador do Curso de Doutorado em Ciências Sociais da Universidade de Cabo Verde. Trabalha com Sociologia de elites e Relações Interétnicas, atuando principalmente nos seguintes temas: mediação político-cultural no mundo rural, etnodesenvolvimento, identidades étnica e nacional, intelectuais, desigualdade racial.

Zusammenfassung und Biografie

In den letzten drei Jahrzehnten hat eine Gruppe lateinamerikanischer Intellektueller Aspekte der postkolonialen Kritik des abendländischen Denkens vertieft und ein geschärftes geopolitisches Bewusstsein von Orts- und Schreibstrategien in den Sozialwissenschaften ausgebildet. Ein geopolitisches Bewusstsein gegenüber dem Imperialismus ist auch ein Merkmal des Denkens von Amílcar Cabral. Es bestehen jedoch bemerkenswerte Unterschiede in der Errichtung der jeweiligen Darstellungsorte. Während sich Amílcar Cabral afrikanischen Sprichwörtern zuwandte, um die Möglichkeit zu schaffen, „mit unseren eigenen Köpfen zu denken”, bestehen lateinamerikanische Intellektuelle darauf, ihre Darstellungsorte aus den Lehrstellen des in den westlichen Sozialwissenschaften vorherrschenden Eurozentrismus abzuleiten. Der Artikel untersucht die Konsequenzen der politischen Radikalität dieser beiden kritischen Positionen hinsichtlich der epistemischen Vorherrschaft des Westens.

 

José Carlos dos Anjos ist Doktor der Sozialanthropologie an der Universität von Rio Grande do Sul, Brasilien (1998). Seine Dissertation trägt den Titel Intellektuelle, Literatur und Macht in Kap Verde: Kämpfe um die Definition nationaler Identität. Schlüsselwörter: ethnische und nationale Identitäten; Soziologie der Transaktion von kulturellen Modellen; Wege der intellektuellen Eliten; politische Vermittlung. Er ist Postdoktorand an der École Normale Supérieure in Paris (2007). Derzeit ist er als Dozent an der Föderalen Universität von Rio Grande do Sul im Bereich des Aufbaustudiums in Soziologie und ländlicher Entwicklung tätig und koordiniert an der Universität von Kap Verde den Promotionsstudiengang in Sozialwissenschaften. Er arbeitet über die Soziologie von Eliten und interethnischen Beziehungen, seine Themen sind insbesondere die politisch-kulturelle Vermittlung in der ländlichen Welt, Ethnoentwicklung, ethnische und nationale Identitäten, intellektuelle, ethnische Ungleichheit.

Sónia Vaz Borges, texto revisto aqui
Sónia Vaz Borges, Übersetzung hier
Os Arquivos Errantes. Recuperando as histórias da História da luta de libertação nacional do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC)
Wandernde Archive. Das Wiederaufleben von Erzählungen zur Geschichte des nationalen Befreiungskampfes der Afrikanischen Partei für die Unabhängigkeit von Guinea und Kap

Resumo e biografia

A sua contribuição concentra-se em narrativas biográficas individuais e coletivas, que a autora denomina Arquivos Errantes, ou seja, aqueles que não são fixos no espaço, num lugar, nem no tempo e cuja informação nunca é temporalmente constante ou estática. As memórias dos Arquivos Errantes e as suas diversas formas de expressão, bem como os fatores que os desencadeiam, estão em constante mudança devido a contextos e ambientes de vida. Na maioria das vezes, essas memórias precisam de ser constantemente trazidas à vida pelas interações humanas entre o entrevistador e o entrevistado. A contribuição incidirá sobre a experiência de vida dos combatentes pela liberdade, membros do PAIGC, e sobre a forma como as suas memórias foram centrais para a reconstrução das ideias e estrutura de educação militante do partido.

 

Sónia Vaz Borges é historiadora, activista político-social e organizadora com experiência interdisciplinar com jovens e idosos em vários países europeus. É licenciada em História Moderna e Contemporânea – Política e Assuntos Internacionais pelo ISCTE-IUL Lisboa e Mestre em História Africana pela Universidade de Letras de Lisboa. Ela recebeu o seu douturamento em Filosofia pela Universidade Humboldt de Berlim. A sua dissertação, com o título Militant Education. Liberation struggle. Consciousness, and underground educational structures in Guinea Bissau 1963-1978, foca nas escolas de libertação e na rede escolar internacional criada pelo movimento de libertação durante a guerra pela independência na Guiné-Bissau. Atualmente, termina o manuscrito para o livro com o mesmo título. Sónia está também a trabalhar num novo projecto de história oral, com o título provisório Re-membering the struggle(s). Life and (hi)stories of PAIGC militants. Ela é também editora dos Cadernos Consciência e Resistência Negra e autora do livro Na Pó di Spéra. Percursos nos Bairros da Estrada Militar, Santa Filomena e Encosta Nascente.

Zusammenfassung und Biografie

Ihr Beitrag konzentriert sich auf die individuellen und kollektiven biografischen Erzählungen, die von der Autorin „Wandernde Archive” genannt werden, also solche, die nicht im Raum, an einen Ort und in der Zeit verhaftet sind und deren Information niemals zeitlich konstant oder statisch ist. Die Erinnerungen der Wandernden Archive und ihre verschiedenen Ausdrucksformen sowie die Faktoren, die sie auslösen, befinden sich aufgrund von unterschiedlichen Kontexten und Lebenswelten in einem ständigen Fluss. Sie müssen durch die Interaktion zwischen Interviewer und Interviewpartner immer wieder zum Leben erweckt werden. Der Beitrag fokussiert sich auf die Lebenserfahrung von Freiheitskämpfern und PAIGC-Mitgliedern und darauf, von welch zentraler Bedeutung deren Erinnerungen für den Wiederaufbau der Ideen und der militanten Bildungsstruktur der Partei waren.

 

Sónia Vaz Borges ist Historikerin, politisch-soziale Aktivistin und Organisatorin, mit interdisziplinärer Erfahrung mit jungen und alten Menschen in mehreren europäischen Ländern. Sie besitzt einen Bachelorabschluss in Moderner und Zeitgenössischer Geschichte – Politik und Internationale Angelegenheiten der Universität Institut Lissabon und einen Master in Afrikanischer Geschichte der Universität Lissabon und promovierte in Philosophie an der Humboldt Universität in Berlin. In ihrer Dissertation mit dem Titel Militant Education. Liberation struggle. Consciousness, and underground educational structures in Guinea Bissau 1963-1978 schreibt sie über die Befreiungsschulen und das internationale Schulnetzwerk, das von der Befreiungsbewegung während des Unabhängigkeitskriegs in Guinea-Bissau geschaffen wurde. Derzeit arbeitet sie an der Fertigstellung eines Buchs mit demselben Titel. Außerdem ist sie mit einem Projekt zu mündlich überlieferter Geschichte befasst, das den vorläufigen Titel Remembering the struggle(s). Life and (hi)stories of PAIGC militants trägt. Darüber hinaus ist sie Redakteurin der Cadernos Consciência e Resistência Negra und Autorin des Buches Na Pó di Spéra. Percursos nos Bairros da Estrada Militar, Santa Filomena e Encosta Nascente.

Pedro Cerdeira, texto revisto aqui
Pedro Cerdeira, Übersetzung hier
Administrar a Guiné-Bissau em tempo de guerra: os chefes “indígenas” entre os administradores portugueses e o movimento de libertação guineense
Die Verwaltung von Guinea-Bissau während des Krieges: die „indigenen“ Oberhäupter zwischen den portugiesischen Kolonialverwaltern und der guinea-bissauischen Befreiungsbewegung

Resumo e biografia

De acordo com a legislação colonial portuguesa, nomeadamente a Reforma Administrativa Ultramarina (1933), os administradores e chefes de posto contavam com um grupo de auxiliares africanos – chefes, intérpretes e guardas, todos eles então inseridos na categoria jurídica de indígena, não gozando por isso da cidadania portuguesa e respectivos direitos. Dado o reduzido número de funcionários europeus em África, os diferentes impérios coloniais tiveram de recorrer a esses intermediários para governar populações numerosas dispersas por vastos territórios. Eram eles quem assegurava a boa administração do quotidiano colonial, tendo nela um papel decisivo. Interessa-me aqui olhar apenas para o grupo dos chamados “chefes indígenas”, composto na Guiné-Bissau por régulos e chefes de povoação. Eram responsáveis, entre outras tarefas, pela coleta de impostos, vigilância, recrutamento de mão de obra e militar e transmissão das instruções e ordens às populações, bem como das queixas destas últimas às autoridades. Utilizo o conceito de agency africana, que vê estas figuras como agentes autónomos e capazes de aproveitar uma posição que lhes conferia larga margem de manobra. Pretendo assim explorar o papel dos chefes africanos na Guiné-Bissau durante o período da guerra colonial que opôs o governo português ao Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC), entre 1963 e 1974. Por um lado, irei avaliar o papel desses chefes na gestão do quotidiano colonial, tentando mapear diferentes relações mantidas entre chefes e autoridades portuguesas, que vão da lealdade à desobediência, particularmente delicadas num contexto de guerra. Por outro lado, num território progressivamente conquistado pelo PAIGC, impõe-se a este encontrar uma forma de enquadrar as populações das regiões libertadas. Se o PAIGC foi instalando a sua própria administração local, baseada em comissários políticos e comités de tabanca e de sector, existem casos de nomeação de régulos que lhe eram favoráveis. Importa, portanto, aferir o papel dos régulos na expansão e consolidação do domínio do PAIGC. Tendo em conta a forma como a administração portuguesa olhava e interagia com os chefes, este texto pretende examinar a política do PAIGC relativamente a esta instituição conotada com o colonialismo e a sua apropriação num contexto de guerra e criação de um estado independente, confirmando a continuação de uma necessidade de encontrar um elemento que ligue elite governante e as populações. Do ponto de vista metodológico, utilizo sobretudo fontes de arquivo (Arquivos Históricos Nacionais de Bissau, Arquivo Nacional da Torre do Tombo), mas também materiais publicados pelo PAIGC.

 

Pedro Cerdeira é assistente e doutorando no Departamento de História Geral da Universidade de Genebra (Suíça), onde assegura um seminário de história do colonialismo europeu em África. Desenvolve a sua tese de doutoramento sobre o papel dos intermediários na administração local da Guiné-Bissau durante os últimos anos do colonialismo português e a transição para a independência, no quadro do projecto Decolonisation as regional experience and global trend: understanding a global phenomenon through processes from West Africa, 1950-1977, coordenado por Alexander Keese e financiado pelo Fundo Nacional Suíço para a Investigação Científica. É igualmente investigador do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Zusammenfassung und Biografie

Nach der portugiesischen Kolonialgesetzgebung, bzw. der Überseeischen Verwaltungsreform (1933), beschäftigten die (portugiesischen) Administratoren und Leiter der Verwaltungsposten eine Gruppe von afrikanischen Hilfskräften – Dorfchefs, Dolmetscher und Wächter, die rechtlich in die Kategorie der „Einheimischen” fielen, und deswegen nicht die portugiesische Staatsbürgerschaft mit den dazugehörigen Rechten besaßen. Angesichts der geringen Anzahl europäischer Beamter in Afrika mussten die Kolonialreiche sich solcher Vermittler bedienen, um die Herrschaft über die weitverstreuten Bevölkerungsmassen ausüben zu können. Diese „Hilfskräfte“ sorgten für die funktionierende Verwaltung des kolonialen Alltags und hatten dabei eine entscheidende Rolle inne. Mein Augenmerk liegt hier insbesondere auf der Gruppe der sogenannten „einheimischen” Chefs, in Guinea-Bissau waren das der Stammesfürst (die Verkörperung der traditionellen Autorität) und die lokalen Führungskräfte . Diese übernahmen unter anderem Aufgaben wie die Erhebung von Steuern, Überwachung, Rekrutierung von Handarbeit und Militärdienst, die Übermittlung von Anweisungen und Anordnungen an die Bevölkerung sowie deren Beschwerden an die Behörden. Ich benutze das Konzept der afrikanischen agency (Handlungsmacht), die diese Personen als autonome Akteure sieht, die in der Lage sind, eine Position zu nutzen, die ihnen einen großen Handlungsspielraum gibt. So will ich die Rolle der afrikanischen Chefs in Guinea-Bissau während des Kolonialkrieges untersuchen, die zwischen 1963 und 1974 die portugiesische Regierung gegen die Afrikanische Partei für die Unabhängigkeit von Guinea-Bissau und Kap Verde (PAIGC) ausspielten. Auf der einen Seite werde ich die Rolle dieser Chefs bei der Verwaltung des kolonialen Alltags auswerten, um deren Beziehungen zu portugiesischen Behörden darzustellen, die besonders im Kontext des Krieges heikel waren und von Loyalität bis zum Ungehorsam reichten. In den Gebieten, die von der PAIGC schrittweise erobert wurden, war es andererseits notwendig, einen Weg zu finden, der der Bevölkerung der befreiten Regionen entgegenkam. Obwohl die PAIGC mithilfe von politischen Kommissaren, Dorf- und Sektorenkomitees ihre eigene lokale Verwaltung aufbaute, gab es ebenfalls Fälle, in denen Stammesfürsten ernannt wurden, die von der Partei bevorzugt wurden. Es ist daher wichtig, die Rolle der Stammesfürsten bei der Erweiterung und Konsolidierung der Vorherrschaft der PAIGC zu bewerten. Unter Berücksichtigung dessen, wie die portugiesische Verwaltung mit den Dorfchefs interagierte und sie beurteilte, möchte ich die PAIGC-Politik in Bezug auf den kolonialen Apparat und seine Aneignung im Kriegskontext und während des Entstehungsprozesses eines unabhängigen Staates untersuchen und dabei die Notwendigkeit einer Kontinuität sichtbar machen, ein Element, das die herrschende Elite und die Bevölkerung miteinander verband. Was die Methodik betrifft, werde ich hauptsächlich Archivquellen (Nationales Geschichtsarchiv von Bissau, Nationalarchiv Torre do Tombo), aber auch von der PAIGC öffentlich gemachtes Material verwenden.

 

Pedro Cerdeira ist Assistent und Doktorand am Institut für Allgemeine Geschichte der Universität Genf (Schweiz), wo er ein Seminar über die Geschichte des europäischen Kolonialismus in Afrika hält. Seine Dissertation über die Rolle der Vermittler in der lokalen Verwaltung Guinea-Bissaus während der letzten Jahre des portugiesischen Kolonialismus und des Übergangs in die Unabhängigkeit schreibt er im Rahmen des Projekts Decolonisation as regional experience and global trend: understanding a global phenomenon through processes from West Africa, 1950-1977, das von Alexander Keese koordiniert und vom Schweizerischen Nationalfonds für wissenschaftliche Forschung finanziert wird. Er ist auch Wissenschaftler am Institut für Zeitgeschichte der Fakultät für Sozial- und Geisteswissenschaften der Neuen Universität von Lissabon.

Nélio Conceição, texto original aqui
Nélio Conceição, Übersetzung hier
A luz por entre a ramagem – fotografia, testemunho e espaço de manobra na zona libertada da Guiné-Bissau
Das Licht zwischen den Zweigen – Fotografie, Zeugenschaft und Spielraum in den befreiten Gebieten in Guinea-Bissau

Resumo e biografia

As fotografias que o finlandês Mikko Pyhälä tirou entre os meses de dezembro de 1970 e janeiro de 1971 constituem um testemunho, próximo e empenhado, da luta contra o colonialismo português em África. Próximo, porque nasce de um convívio com as populações das zonas libertadas, captando as formas de vida que ali se ensaiavam, no espaço intersticial entre a guerra de guerrilha e a promessa transformadora da consciencialização política. Empenhado, porque o autor das fotografias, membro da União Internacional de Estudantes (UIE), estava incumbido de registar os acontecimentos como forma de captar mais apoios internacionais para a causa da libertação. Mas, no interior deste complexo contexto histórico, que significado tem o gesto de testemunho? De uma forma geral, qualquer testemunho fotográfico é alimentado pelo carácter de contacto com o real, pelo “ter estado lá” do fotógrafo. Sem negligenciar esta constatação e uma necessária contextualização das fotografias, o texto reflete, no seu primeiro momento, sobre os elementos que fazem a força e, simultaneamente, mostram a condição problemática do documento fotográfico: ponto de vista e ocultação; mudez e necessidade de legenda; carácter estático da imagem e montagem como construção de uma narrativa visual; campo e fora-de-campo. Importa, neste sentido, contrapor o conjunto de fotografias aos documentos fílmicos e escritos que também resultaram da viagem dos membros da União Internacional de Estudantes. Por outro lado, este conjunto de fotografias forma uma imagem da história que não está acabada. Recuperando a concepção figurativa da história de Walter Benjamin – que pressupõe uma relação dialéctica entre o passado e o presente – o texto desenvolve, num segundo momento, uma reflexão sobre esse inacabamento e o seu carácter espectral, pois ele perturba a função meramente conservadora dos arquivos, abrindo novas formas de legibilidade. A zona libertada corresponde a uma grande zona geográfica, política, militar e social. No espaço construído pelos fragmentos de Pyhälä não existem combates nem sangue (sintomaticamente, a única legenda que marca um evento de combate é documentada por uma tabanca vazia); mas existe a vida quotidiana, a educação e os cuidados de saúde, o comércio e as mulheres de relevo, os homens tranquilos e confiantes, as armas paradas ou encaixotadas, as caminhadas entre aldeias (são as caminhadas que dão a noção de percurso pelo território, de viagem). De resto, todos os espaços parecem desconexos, e a fragmentação fotográfica constrói uma zona visual incerta. Literal e metaforicamente, o texto desenvolve, num terceiro momento, os modos segundo os quais a zona libertada (fotográfica) pode então ser vista quer como um espaço de manobra, quer como um espaço de jogo, onde os objectos ganham novos usos e se ensaiam alternativas à dominação colonial. As crianças, como não poderia deixar de ser, são parte fulcral desse jogo: são elas que unem a agilidade da imaginação à prática utópica – e diária – da construção de um novo imaginário político.

 

Nélio Conceição licenciou-se em Filosofia pela Universidade de Coimbra em 2005. Em 2013, concluiu um doutoramento em Estética, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, com uma tese que desenvolve as relações entre filosofia e fotografia, tomando como referência o pensamento de Walter Benjamin, mas aprofundando também perspectivas fenomenológicas e o pensamento de Fernando Gil. É investigador integrado no IFILNOVA – Instituto de Filosofia da Universidade Nova de Lisboa, onde coordena o grupo “Arte, Crítica e Experiência Estética”. Actualmente, desenvolve um projecto de pós-doutoramento sobre as relações entre arte, jogo e imagem, explorando as ramificações filosóficas e artísticas da obra de Walter Benjamin. Trabalha no âmbito da estética, da filosofia da fotografia e da filosofia contemporânea, interessando-se em particular por temas relativos às práticas artísticas na sua relação com a história, com o jogo e com a experiência da cidade.

Zusammenfassung und Biografie

Die Fotografien, die der Finne Mikko Pyhälä von Dezember 1970 bis Januar 1971 aufgenommen hat, sind ein nahes und engagiertes Zeugnis des Kampfes gegen den portugiesischen Kolonialismus in Afrika. Nah, weil sie aus dem Zusammenleben mit den Menschen in den befreiten Gebieten entstanden sind und Lebensweisen festhalten, die an der Nahtstelle zwischen dem Guerillakrieg und dem Versprechen eines politischen Bewusstseinswandels geprobt wurden. Engagiert, weil der Fotograf Mitglied der Internationalen Studentenvereinigung (ISV) war und durch die Dokumentation der Ereignisse die Möglichkeit sah, weitere internationale Unterstützung für die Sache der Befreiung zu gewinnen. Doch welche Bedeutung hat in diesem komplexen historischen Kontext die Geste des Zeugnisses? Im Allgemeinen wird jedes fotografische Zeugnis vom Charakter des Kontakts mit dem Realen gestützt, vom „Dort gewesen Sein” des Fotografen. Ohne diese Erkenntnis und die notwendige Kontextualisierung der Fotografien zu vernachlässigen, untersucht der Text zunächst die Aspekte, die die Kraft und gleichzeitig die Problematik des fotografischen Dokuments ausmachen:: Blickpunkt und Ausblenden; Stummheit und Notwendigkeit der Beschriftung; den statischen Charakter des Bildes und die Montage als Konstruktion einer visuellen Erzählung; Blickfeld und Abseits. Hierbei ist es wichtig, die Fotoserie den filmischen Dokumenten und den Schriften gegenüberzustellen, die außerdem während der Reise der Mitglieder der ISV entstanden und gleichermaßen im Bestand der Stiftung Mário Soares zu finden sind. Auf der anderen Seite stellt diese Fotoserie ein noch nicht vollständiges Geschichtsbild dar. Nach der figurativen Vorstellung Walter Benjamins von Geschichte – die eine dialektische Beziehung zwischen der Vergangenheit und der Gegenwart voraussetzt – entwickelt der Beitrag danach eine Reflexion über die Unvollständigkeit und ihren spektralen Charakter, indem er die lediglich konservative Funktion des Archivs in Frage stellt und neue Formen der Lesbarkeit eröffnet. Das befreite Gebiet ist ein großer geografischer, politischer, militärischer und sozialer Raum. In diesem, von Pyhäläs Fotofragmenten geschaffenen Raum gibt es keine Kämpfe und kein Blut (symptomatischerweise steht die einzige Bildunterschrift, die ein Kampfereignis kennzeichnet, unter dem Bild eines leeren Dorfes); aber es findet sich dort der Alltag, die Bildung und das Gesundheitswesen, der Handel, die herausragenden Frauen, die ruhigen, zuversichtlichen Männer, die stillen oder verpackten Waffen, Wanderungen zwischen den Dörfern (gerade diese Wanderungen bewirken die Vorstellung von einer Distanz innerhalb des Gebietes und einer Reise). Darüber hinaus scheinen alle Räume voneinander getrennt zu sein, die fotografische Fragmentierung bildet ein unbestimmtes visuelles Gebiet ab. In einem dritten Schritt wendet sich der Beitrag buchstäblich und metaphorisch der Art und Weise zu, wie das (auf den Fotos gezeigte) befreite Gebiet sowohl als Handlungsspielraum wie auch als Raum des Spielens begriffen werden kann, in dem die Objekte neue Verwendungen erfahren und Alternativen zur Kolonialherrschaft versucht werden. Die Kinder spielen natürlicherweise eine zentrale Rolle in diesem Spiel: Sie verbinden die Imagination mit den utopischen – jedoch alltäglichen – Praktiken, um ein neues politisches Imaginäres zu schaffen.

 

Nélio Conceição studierte bis 2005 Philosophie an der Universität von Coimbra. 2013 promovierte er an der Fakultät für Sozial- und Humanwissenschaften der Neuen Universität von Lissabon in Ästhetik. In seiner Dissertation untersucht er die Bezüge zwischen Philosophie und Fotografie, das Denken Walter Benjamins, aber auch die phänomenologischen Perspektiven und die Denkweise Fernando Gils stehen dabei im Fokus. Er forscht am IFILNOVA – Institut für Philosophie der Neuen Universität von Lissabon, wo er die Gruppe „Kunst, Kritik und ästhetische Erfahrung“ koordiniert. Zurzeit entwickelt er ein Postdoktoranden-Projekt über die Beziehungen zwischen Kunst, Spiel und Bild und erforscht die philosophischen und künstlerischen Auswirkungen von Walter Benjamins Werk. Er arbeitet im Bereich der Ästhetik, der Philosophie, der Fotografie und der zeitgenössischen Philosophie, und interessiert sich insbesondere für Fragen zu künstlerischen Praktiken und deren Bezug zur Geschichte, zum Spiel und zur Erfahrung von Stadt.

Patrícia Godinho Gomes, texto revisto aqui
Patrícia Godinho Gomes, Übersetzung hier
Trajetórias, construções e percursos emancipatórios de mulheres na Guiné-Bissau: narrativas da luta de libertação
Verläufe, Konstruktionen und Wege der Emanzipation von Frauen in Guinea-Bissau: Narrative vom Befreiungskampf

Resumo e biografia

A luta armada levada a cabo na Guiné-Bissau entre a década de 1960 e meados dos anos 1970 constituiu, sem dúvida, o primeiro momento e espaço da tomada de consciência política das mulheres sobre os valores da libertação, da construção nacional e da emancipação feminina. A ideia de vencer o “duplo colonialismo” subentendeu, contemporaneamente, a luta contra as várias formas da opressão colonial e uma transformação social com base em uma visão de gênero. No entanto, nesse processo, as mulheres deveriam promover a própria emancipação (assumindo-se como protagonistas) numa perspetiva de complementaridade (trabalho com os homens), no qual era necessário considerar outras dimensões das relações das mulheres e sua capacidade de agenciamento. Atendendo às complexidades do processo e com base em um estudo empírico realizado entre 2015 e 2017 na Guiné-Bissau, o artigo tem por finalidade discutir alguns dos resultados de uma pesquisa em curso sobre “As outras vozes” femininas da história da libertação guineense. Mais especificamente, o texto propõe uma análise da narrativa nacionalista e das práticas em relação à igualdade de género, à luz de algumas vozes femininas da história da luta de libertação e de acordo com uma perspetiva teórica descolonial do(s) feminismo(s) negro(s).

 

Licenciada em Relações Internacionais pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas-ISCSP da Universidade Técnica de Lisboa, com especialização em Estudos Africanos (1995), Doutora em História e Instituções da África – Università degli Studi di Cagliari (2002) e pós-doutorada em História da África pela Universidade de Cagliari (Itália) (2006-2010). Atualmente é bolseira de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos-Pós Afro da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professora colaboradora na mesma instituição. Tem experiência na área de História, com ênfase na história social das mulheres nas resistências anticoloniais, estudos de gênero e feminismos nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), mais especificamente na Guiné-Bissau e em Cabo Verde. Tem escrito sobre temas de género na Guiné-Bissau, e mais recentemente sobre feminismos africanos, com particular ênfase nos PALOP. É pesquisadora associada do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa da Guiné-Bissau e membro associado do Conselho para o Desenvolvimento da Pesquisa em Ciências Sociais em África (Codesria). É autora da obra Os fundamentos de uma nova sociedade: o PAIGC e a luta armada na Guiné-Bissau (1963-1973), pela Harmattan Itála (2010), organizadora, com Muleka Mwewa e Gleiciani Fernandes, da obra Gênero, cidadania e identidades, pela Nova Harmonia (São Leopoldo, Brasil) (2009) e co-autora da obra O que é feminismo?, pela Escolar Editora, Lisboa-Maputo (2015).

Zusammenfassung und Biografie

Der bewaffnete Kampf in Guinea-Bissau von den 1960er bis Mitte der 1970er Jahre bot Frauen zweifellos zum ersten Mal die Möglichkeit, ein politisches Bewusstsein über die Wertvorstellungen der Befreiung, den nationalen Aufbau und die Frauenemanzipation zu entwickeln. Die Idee von der Überwindung des „doppelten Kolonialismus” beinhaltete gleichzeitig den Kampf gegen die verschiedenen Formen der kolonialen Unterdrückung und eine gesellschaftliche Transformation, die auf einer Geschlechterperspektive basierte. In diesem Prozess sollten Frauen jedoch ihre eigene Emanzipation (in der sie sich selbst als Protagonisten behaupten) aus einer Perspektive der Komplementarität (der Zusammenarbeit mit Männern) vorantreiben, was es nötig machte, andere Ebenen dieser Bezüge sowie die Handlungsmacht der Frauen zu berücksichtigen. Angesichts der Komplexität des Prozesses und auf der Grundlage einer zwischen 2015 und 2017 in Guinea-Bissau durchgeführten empirischen Studie zielt der Artikel darauf ab, einige der Ergebnisse einer laufenden Forschung über „die anderen Stimmen” der Frauen in der Geschichte der guinea-bissauischen Befreiung zu diskutieren. Im Einzelnen schlägt der Artikel eine Analyse der nationalen Erzählung und Praxis mit Blick auf die Gleichstellung der Geschlechter vor. Aus einer dekolonialen theoretischen Perspektive des/der schwarzen Feminismus/ Feminismen stellt er dabei weibliche Stimmen aus der Geschichte des Befreiungskampfes vor.

 

Patrícia Godinho Gomes machte ihren Abschluss in Internationalen Beziehungen am Institut für Sozial- und Politikwissenschaften der Technischen Universität Lissabon, mit Spezialisierung im Bereich Afrikanische Studien (1995). Sie promovierte an der Universität von Cagliari in Geschichte und Institutionen Afrikas (2002) und machte ein Postdoktoranden-Studium in Geschichte Afrikas (2006-2010). Derzeit ist sie Postdocstipendiatin des postgradualen Programmes in Ethnischen und Afrikanischen Studien an der Bundesuniversität von Bahia, wo sie auch unterrichtet. Im Fachgebiet Geschichte hat sie sich insbesondere mit der Sozialgeschichte der Frau im anti-kolonialen Widerstand befasst, außerdem hat sie Erfahrung in den Gebieten Genderstudies und Feminismen in afrikanischen Ländern mit Amtssprache Portugiesisch (PALOP), insbesondere in Guinea-Bissau und Kap Verde. Sie hat zu Genderthemen in Guinea-Bissau und in jüngerer Zeit über afrikanische Feminismen geschrieben, wobei sie sich auf die PALOP-Länder konzentriert hat. Außerdem ist sie wissenschaftliche Mitarbeiterin am Nationalinstitut für Studien und Forschung in Guinea-Bissau und assoziiertes Mitglied des Rates für die Entwicklung der Sozialwissenschaften in Afrika (Codesria) und Autorin des Buches Os fundamentos de uma nova sociedade: o PAIGC e a luta armada na Guiné-Bissau (1963-1973), herausgegeben von Harmattan Itälä (2010). Zusammen mit Muleka Mwewa und Gleiciani Fernandes organisierte sie das Projekt Gênero, cidadania e identidades, herausgegeben von Nova Harmonia (São Leopoldo, Brasilien) (2009) und sie ist Koautorin des Buches O que é feminismo?, das bei Escolar Editora, Lissabon-Maputo (2015) erschienen ist.

Amílcar Cabral, textos revistos aqui
Amílcar Cabral, Übersetzung hier
___ Sem título 1 – Texto incompleto, falta a primeira página ___ O nosso povo, o governo português e a ONU ___ Portugal é imperialista?
___ Ohne Titel 1 – unvollständiger Text, fehlende erste Seite ___ Unseres Volk, die Portugiesische Regierung und die Vereinten Nationen ___ Ist Portugal imperialist?
Mário Pinto de Andrade, texto revisto aqui
Mário Pinto de Andrade, Übersetzung hier
Entrevista na Rádio Libertação, escutada e transcrita pela PIDE, 1967: A nossa vida e a nossa luta.
Gespräch am Rádio Libertação (guinea-bissauischer Rundfunk vor der Unabhängigkeit), abgehört und transkribiert von der PIDE (portugiesische Internationale Polizei und Staatsschutz während der Diktatur), 1967.